sexta-feira, 20 de abril de 2012

Artigos sobre Literatura: Realismo


REALISMO


     O Realismo foi um movimento artístico surgido nas últimas décadas do século XIX, na Europa. No âmbito literário mais especificamente, este movimento teve início na França, com a publicação da obra "Madame Bovary", de Gustave Flaubert. No Brasil, o maior expoente dessa escola foi o escritor Machado de Assis, com a publicação de 3 principais livros: Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba. 

Algumas informações relevantes sobre a escola literária do Realismo

1.     Perspectiva histórica do surgimento do Realismo:
1.1.         Mudanças sociais e econômicas do século XIX
a)     o advento da Revolução Industrial;
b)    o avanço tecnológico;
c)     os problemas sociais (exploração dos trabalhadores, péssimas condições de vida etc);
d)    a expansão do capitalismo.

1.2.         Origem do Realismo enquanto escola literária: ocorreu na França, com a  publicação da obra “Madame Bovary” de Gustave Flaubert

1.3.         Influências científicas no pensamento realista:
a)     o Positivismo, de Auguste Comte;
b)    o Evolucionismo, de Charles Darwin;
c)     o Determinismo, de Hypolyte Taine.

2.     Principais características do Realismo:
a)     objetividade;
b)    imparcialidade;
c)     crítica social;
d)    análise psicológica;
e)     predomínio da denotação;
f)      narrativa lenta;
g)     preocupação formal (uso correto da língua);
h)    personagens esféricas.

3.     O Realismo no Brasil
3.1.         Início: ocorreu em 1881, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis
3.2.         Principal expoente: Machado de Assis  (1839-1908) 

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Este artigo é apenas uma síntese, com noções gerais sobre o tema. Leia mais sobre  o Realismo:

Vídeos sobre o tema:

domingo, 15 de abril de 2012

Artigo sobre a necessidade de simplificação da linguagem jurídica



QUAL SERÁ O FIM DO JURIDIQUÊS ?

        
      Para a população brasileira em geral, o "Juridiquês" é um idioma tão complicado e incompreensível quanto o Grego, o Hebraico, o Mandarim ou o Russo. Mais do que um idioma, o Juridiquês constitui um verdadeiro abismo entre os profissionais do Direito, presos em seu círculo de formalidades, e o povo como um todo, cada vez mais necessitado de uma Justiça eficiente, clara e célere. Superar tal problema demanda não só uma simplificação da linguagem jurídica, como também uma nova abordagem acerca das funções sociológicas, políticas e econômicas do Judiciário em âmbito brasileiro. Desse modo, é necessário estabelecer parâmetros mais eficazes de comunicabilidade entre os operadores jurídicos e os diversos segmentos sociais, por meio da superação de dois aspectos preponderantes que tornam a linguagem jurídica bastante rebuscada: o histórico e o técnico.


        Historicamente, é oportuno ressaltar que o Juridiquês, seja no Brasil ou em outros países, tem características culturais muito atreladas à noção do Direito como instrumento de controle social usado pela e para a elite. Esse aspecto histórico contribuiu de modo nítido para tornar a linguagem jurídica propositadamente inacessível ao povo, mantendo-o alheio tanto ao conhecimento quanto à defesa efetiva de seus direitos. Com o implemento dos primeiros cursos de Direito no Brasil, mais precisamente em Recife e em São Paulo, no ano de 1827, imprimiu-se a ideia segundo a qual o ensino jurídico constituiria privilégio da aristocracia para a formação de quadros nacionais. Em outras palavras, o Juridiquês brasileiro transformou-se em reflexo das próprias disparidades sócio-econômicas de um país que sempre foi marcado pelas grandes concentrações de renda e de poder nas mãos de poucos, em detrimento de uma maioria miserável e analfabeta.



        Nesse sentido, juristas como Rui Barbosa ou Pontes de Miranda se expressavam por meio de uma linguagem rebuscada e prolixa, cuja decodificação só estaria ao alcance de pouquíssimos bacharéis brasileiros, formados para se sobreporem política e ideologicamente às massas iletradas. Além desse problema de cunho histórico, outro aspecto intrínseco à linguagem jurídica diz respeito ao tecnicismo hermético que costuma estar presente não só entre os operadores do Direito, mas também entre profissionais de diversas áreas do saber, como a Medicina e a Economia, por exemplo. Por tecnicismo hermético, entenda-se o uso reiterado de termos apenas identificáveis por pessoas inseridas em círculos profissionais específicos, de modo a se impossibilitar a compreensão de tais termos por indivíduos que estejam fora dos referidos círculos. Expressões latinas como fumus boni iuris podem soar tão enigmáticas para um economista quanto a idéia de elasticidade-preço da demanda pode parecer indecifrável para um advogado. Assim, torna-se perfeitamente compreensível a perplexidade das pessoas que escutam termos como litispendência ou litisconsórcio e ficam sem saber se tais substantivos designam objetos materiais, bens perecíveis, produtos ou meras abstrações jurídicas.



         É evidente que cada ramo do conhecimento possui termos próprios para designar seus objetos de estudo, porém tais termos não devem ser utilizados como meios de se dificultar a comunicação entre os conhecedores de certo tema e a sociedade em geral. Assim, a consciência de que a linguagem jurídica é direcionada a um público heterogêneo deve ser incutida nas atividades de todos os operadores do Direito, pois eles desempenham um conjunto de funções sociais, políticas e econômicas que não podem ser suplantadas por formalismos linguísticos ou burocráticos.  Nesse sentido, a própria Constituição Federal determina, em seu artigo 13, que a língua portuguesa é o idioma oficial do Brasil, ensejando o entendimento de que os atos do Estado brasileiro, inclusive os judiciais, necessitam ser proferidos em Português claro e acessível aos cidadãos do País.

     Da mesma forma que nenhum brasileiro é obrigado a entender Árabe ou Mandarim, ele obviamente também não tem qualquer obrigação em compreender Juridiquês, mesmo porque esse “idioma” não é ensinado nas escolas de nível fundamental ou médio, mas apenas em cursos e instituições de nível superior. Em virtude de todas as ideias até aqui esboçadas, o Juridiquês deve ser substituído pelo Português objetivo e acessível a todas as pessoas que busquem algum provimento judicial. O estilo pomposo e rebuscado que muitos operadores do Direito utilizam para se expressar apenas aumenta a distância entre eles e os segmentos sociais mais desfavorecidos. Em um país que se pretenda minimamente democrático, as formas de comunicação, entre elas a jurídica, devem ser instrumentos de diálogo social e não podem constituir, portanto, um mero fim em si mesmas. Nesse sentido, o Direito não pode ser cego diante de suas necessidades de mudança contínua e, consequentemente, a linguagem que o expressa deve ser compreensível à população em geral.
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Veja um entrevista interessante nesse sentido pela simplificação da linguagem jurídica:

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Artigo: Educação e Justiça





ARTIGO: A JUSTIÇA EDUCATIVA


       A educação pode ser vislumbrada como um dos instrumentos mais úteis para as transformações sociais, em geral. No que tange às instituições públicas, práticas educativas inovadoras podem aprimorá-las, com o objetivo de que todos os indivíduos possam compreender o modo pelo qual os órgãos atuam no Brasil. Esse entendimento proporcionaria, paulatinamente, maior democratização no acesso às instituições como a Justiça, por exemplo, além de viabilizar reflexões da própria sociedade sobre as mudanças que são necessárias ao sistema judiciário brasileiro. 

       Como as disciplinas jurídicas, em regra, não são lecionadas nas escolas de ensino fundamental e médio, o conhecimento acerca dos vários ramos do Direito fica restrito a faculdades e a cursos específicos. Desse modo, a população em geral nem sequer tem a oportunidade de saber como funcionam (ou deveriam funcionar) o Estado, os Poderes Executivo, Judiciário e  Legislativo, bem  como a Polícia, o Ministério Público e demais instituições públicas de seu próprio País. A referida alienação tende a se coadunar com objetivos de certos setores da elite empresária e governamental, a quem interessa manter o povo sem consciência de seus direitos e sem efetivos meios de acesso aos órgãos públicos.

     Em tal abordagem, o autor Paulo Freire salienta que “o processo educativo pode servir tanto para a libertação quanto para a dominação das pessoas” . No contexto brasileiro, é mais provável a ocorrência da segunda hipótese aludida, uma vez que milhões de estudantes finalizam o ensino médio, a cada ano, sem nunca terem aberto a Constituição da República ou auferido um arcabouço de informações imprescindíveis ao exercício de seus direitos. Assim, há necessidade de se implementar um sistema educacional que seja instrumento de mudança das instituições estatais, propiciando reflexões sobre a necessidade de melhorias no três Poderes do Estado, assim como sistema jurídico em geral. 

  Trata-se, assim, de concretizar satisfatoriamente o direito fundamental à educação, em seu sentido amplo. E, nessa perspectiva, a educação deve ser vislumbrada como um ideal preponderante para as transformações sócio-políticas no Brasil. A partir desse argumento, torna-se possível estruturar uma Justiça educativa, por meio do diálogo entre os que detêm o conhecimento jurídico e a sociedade em geral. Por Justiça educativa, entenda-se aquela que não se adstringe a condenar ou a dizer o direito, mas também estimula a reflexão para as transformações sociais. 

  A Justiça educativa pode ser implementada de diferentes maneiras. Uma primeira forma diz respeito à possibilidade de os profissionais do meio jurídico ministrarem palestras ou cursos nas escolas e nas comunidades mais carentes. Há alguns projetos sendo desenvolvidos nesse sentido como, por exemplo, o programa OAB vai à escola , implementado em alguns Estados brasileiros. Outra forma de viabilização da Justiça educativa seria por meio de atividades extra-curriculares realizadas por estudantes de Direito em instituições de ensino fundamental e médio, sob a supervisão de um professor ou jurista coordenador, como o projeto "Cidadania e Justiça nas Escolas", ministrado em diferentes cidades brasileiras.

     Desse modo, os estudantes e profissionais poderiam fazer abordagens acerca de diferentes temas jurídicos aos alunos dos níveis de ensino já referidos, com a utilização dos mais variados recursos, sejam eles musicais, teatrais ou meramente expositivos. Tais realizações contabilizariam créditos nas faculdades e contariam como atividades complementares, essas já obrigatórias a todos os estudantes de Direito do País, conforme regulamenta o Ministério da Educação. Assim, estar-se-ia cumprindo o que Boaventura de Sousa Santos designa de “responsabilidade social da universidade perante os problemas do mundo contemporâneo” . 

    Por meio da Justiça educativa, as faculdades de Direito (e demais faculdades) poderiam conferir maior aprofundamento aos estudos feitos por seus alunos e, conseqüentemente, melhorar a complicada qualidade de boa parte do ensino que é ministrado no Brasil. As próprias bases de tal ensino poderiam ser reformuladas, de modo que os estudantes não fossem meros espectadores de aulas nas universidades, mas, sobretudo, artífices e transmissores de seu conhecimento. Essa mudança educacional é extremamente necessária, pois, a cada ano, o número de estudantes universitários aumenta no contexto brasileiro, sem que haja uma correspondente melhoria da qualidade dos cursos. Conforme o Instituto Nacional de Estudos Anísio Teixeira (Inep), por exemplo, apenas no ano de 2003, ingressaram cerca de 508.424 indivíduos em Faculdades de Direito no País, muitos deles desprovidos de garantias sobre a qualificação e a seriedade das instituições em que iriam estudar. 

    Como mecanismo de estímulo às atividades da Justiça educativa, pode ser conferido aos estudantes e aos profissionais que participarem do projeto um certificado por meio do qual lhes sejam concedidos pontos em concursos, como estímulo a esse trabalho voluntário. Assim, apesar das dificuldades para o implemento do referido projeto, é imprescindível incentivar práticas de transformação social no meio acadêmico brasileiro. Tanto a sociedade quanto os profissionais e estudantes tendem a lucrar com tais práticas de um Estado reformulado, que não se restrinja a condenar, mas que também viabilize o exercício da cidadania. 

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1 - FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1977. 

2 -  SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1997.

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Artigo escrito por Juliana S. Valis, publicado também em:


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Seguem vídeos retirados do Youtube sobre o tema "Educação e Justiça", com exemplos dos projetos "Cidadania e Justiça nas Escolas" e  "OAB vai à Escola", desenvolvido em diferentes cidades brasileiras:





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sábado, 7 de abril de 2012

SE VOCÊ ENCONTRASSE MACHADO DE ASSIS...


  


SE VOCÊ ENCONTRASSE MACHADO DE ASSIS...

           Pequeno artigo reflexivo


      Se você encontrasse Machado de Assis, perguntaria como escrever romances, como delinear pessoas abstratas e complexas, ou faria apenas uma simples homenagem como esta ? Se eu tivesse a possibilidade transcender o tempo, gostaria de, talvez, conversar com Machado de Assis e perquirir como ele conseguiu impregnar nas letras os vestígios tão profundos da essência humana. Sim, os personagens dos livros são seres da abstração que refletem nossa alma, além de nossas visões e perspectivas mais íntimas. São, ainda, seres que a imaginação delineia nos moldes dos sentimentos, sob infinitos ângulos e formas.


          E nesta arte, Machado de Assis foi impecável, como outros grandes escritores: a arte de edificar personalidades. Veja como os "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" da Capitu marcam  a trama de "Dom Casmurro", conferindo-lhe um tom enigmático. Ainda veja como a célebre frase "ao vencedor as batatas", presente na obra "Quincas Borba", propicia uma feição irônica e, ao mesmo tempo, fortemente humana, a um dos personagens mais curiosos da literatura machadiana, o filósofo do humanitismo. E o que dizer de Brás Cubas ? Muito intenso, em sua célebre frase: "não me casei, não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria". Forte trecho literário, impregnado de uma perplexidade humana que enseja reflexões infinitas, como vários dos personagens de Machado de Assis. 


      Foi por essa genialidade que  a escrita machadiana conseguiu transcender o tempo e se solidificar na literatura brasileira, de forma indelével. O que torna uma obra imortal, enfim, é o que ela nos transmite em termos humanos, propiciando reflexões infinitas sobre a vida, o mundo e o modo como interagimos em sociedade.




Leia mais sobre as obras e a biografia de Machado de Assis nos sites:






Seguem alguns vídeos interessantes sobre Machado de Assis:






quarta-feira, 4 de abril de 2012

Artigo: Paranóia da Esperteza ou Mistificação da Ética ?


PARANÓIA DA ESPERTEZA 
OU MISTIFICAÇÃO DA ÉTICA ? 
Pequena crônica para reflexão, por Juliana S. Valis




        Logo após a Semana de Arte Moderna de 1922, o escritor Monteiro Lobato publicou uma ferrenha crítica à pintura de Anita Malfatti por meio do artigo designado “paranóia ou mistificação?”. Em tal artigo, o autor referido atacava basicamente os contornos “disformes” da arte modernista, em contraponto ao que ele considerava excelso na técnica da arte clássica. 


   Noventa anos se passaram desde aquele fatídico episódio e a crítica de Monteiro ainda enseja uma série de reflexões oportunas, nem tanto atreladas à arte de pintar quadros, mas, sobretudo, à arte de eleger e "fiscalizar" governantes. Sim, o voto, em tempos atuais, deixou de ser apenas um direito, ou um dever, para se transformar em uma espécie de “oitava arte”, consistente na árdua tarefa de conferir mandatos a pessoas que sejam realmente íntegras na gestão dos bens públicos. O grande problema da política brasileira, nesse sentido, é que a aludida “arte do voto” se tornou refém de dois monstros da democracia: a “paranóia da esperteza” e a “mistificação da ética”.  




 
  É bastante simples compreender a essência dos dois termos referidos, mesmo porque exemplos não faltam para esse objetivo. Preliminarmente, torna-se oportuno salientar que o vocábulo “esperteza” tem assumido conotações bastante problemáticas na sociedade brasileira, influenciando os grupos mais humildes até os mais abastados.


     Nesse sentido, alguns empresários se dizem “espertos” por sonegarem tributos, alguns traficantes se dizem “espertos” por corromperem a polícia, outros indivíduos se dizem “espertos” por roubarem pequenas ou grandes somas de dinheiro, e assim se configura uma particularíssima “república dos espertos”. Anônimos ou famosos, aplaudidos ou execrados, os “espertos” aderem de modo nocivo ao que sociólogos como Roberto da Matta designaram de o “jeitinho brasileiro” ou, em termos mais patológicos, a “paranóia de se querer levar vantagem em tudo”.




   Embora não se saiba ao certo o que ocasiona essa  paranóia coletiva (da esperteza), o fato é que ela tem se mostrado tão perniciosa a ponto de poder ser descrita como um verdadeiro câncer social, destruindo células e órgãos de toda uma democracia. Talvez nem Freud ou Jung conseguissem explicar com minúcias a referida “paranóia da esperteza”, mas compreendê-la e combatê-la tem se mostrado tarefa tão imprescindível quanto a contenção de outras doenças.

   Assim, necessita-se urgentemente de um antídoto cuja fórmula inocule honestidade nos milhões de “espertos” que ultrajam os interesses públicos, em nome de interesses privados, muitas vezes espúrios e criminosos. Se houvesse um tratamento psiquiátrico efetivo para a “paranóia da esperteza”, poder-se-ia afirmar com certa probabilidade que escândalos de corrupção, shows de propinas e seus congêneres seriam páginas viradas na história da política brasileira. 




     
      Companheira da “paranóia da esperteza”, a “mistificação da ética” é a outra grande vilã que macula a sociedade como um todo. Em meio a tantos ultrajes à República, a ética tem constituído verdadeiro mito no contexto político e social, como se fosse um mero devaneio filosófico, e não uma obrigação concreta ou constante. De fato, não é necessário ser um grande filósofo para se verificar o modo pela qual o conteúdo ético das práticas políticas vem sendo mistificado no Brasil e também em outros países. Quando um parlamentar recebe propina ou quando um comerciante não emite nota fiscal, ambos sabem que estão agindo em detrimento do interesse público, ainda que não tenham conhecimento sobre qualquer teoria religiosa ou filosófica sobre práticas morais. 


   Assim, o grande empecilho de se mistificar a ética, tornando-a demasiadamente abstrata e inalcançável, é permitir que ela constitua exceção em um mundo cada vez mais destrutivo e complexo. No momento em que se mistifica determinado conceito, portanto, cai-se na armadilha de torná-lo excessivamente vago, nebuloso e, por conseqüência, impraticável. Desse modo, para se desmistificar a ética, é necessário praticá-la efetivamente, entendê-la como fato concreto e assumi-la como atitude cotidiana. De que adianta o seu Joaquim da padaria criticar a prefeita que desvia verbas públicas se ele mesmo sonega imposto ou vende produtos com validade vencida ? Desde quando a falta de ética por parte de alguns pode justificar a conduta ilícita de outros ? 

     O pensador e filósofo alemão Imannuel Kant, ao tratar sobre o tema da moral, em sua “Fundamentação da metafísica dos costumes”, escreveu que cada pessoa deveria agir de tal forma que o preceito de sua ação pudesse se transformar em lei universal. Se uma pessoa, por exemplo, não pode converter os atos de matar ou de roubar em imperativos universais, então tais atos não são éticos nem socialmente recomendáveis. Ademais, Kant frisou a ideia segundo a qual os seres humanos devem ser considerados fins em si mesmos, e não meros objetos para se alcançar finalidades alheias. Tais concepções kantianas, bem como outras idéias filosóficas, podem ser úteis tanto para se combater a “paranóia da esperteza” quanto para se evitar a “mistificação da ética”. Se cada político ou cidadão brasileiro agisse buscando transformar seu ato em lei universal, provavelmente não existiriam tantas comissões parlamentares de inquérito no Congresso, nem tantos processos criminais abarrotando os fóruns, nem tantos desvios de verbas públicas, inclusive destinados aos serviços essenciais como educação e saúde.





              Se houvesse uma semana de arte pós-moderna no Brasil,  noventa anos após o célebre evento modernista de 1922, talvez pudéssemos focalizar melhor o aperfeiçoamento de uma “oitava arte” em todo o país (a arte de agir com altruísmo, com solidariedade ao próximo). Contudo,  essa "arte" não pode ser apenas exposta em museus ou teatros municipais. Essa arte deve ser efetivamente praticada por todos os brasileiros que queiram pintar um novo quadro nacional, sem a “paranóia da esperteza” e a “mistificação da ética”. Caso contrário, será bem melhor transferir o nosso “sítio do pica-pau amarelo” para outro planeta do sistema solar. De preferência, Júpiter. 

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Texto de Juliana S. Valis, com adaptações, publicado originalmente em:

Rápidas Reflexões sobre o livro "O Processo" de Franz Kafka


 
BREVE ARTIGO SOBRE "O PROCESSO",  

livro DE FRANZ KAFKA

                                 

               Em uma manhã aparentemente corriqueira , Josef K., um jovem procurador de banco, foi surpreendido em sua residência por dois guardas que vieram comunicar-lhe a respeito de um processo que estava sendo movido contra ele. Pensando se tratar de uma brincadeira, Josef K. inicialmente não levou os guardas a sério. Como desconhecia o motivo pelo qual estava sendo processado, K. supôs que tal situação não passasse de uma mera artimanha tramada por seus colegas de banco, a fim de surpreendê-lo. Posteriormente, K. teve encontro com um inspetor que lhe certificou acerca de sua detenção; sem, contudo, esclarecer as razões que norteavam o processo. No dia em que completara 31 anos, Josef K. foi morto à porta de sua casa, desconhecendo completamente os motivos pelos quais havia sido processado durante um ano. 


                 Esse romance de Franz Kafka constitui uma grande crítica metafórica a todos os mecanismos jurídicos que, de fato, demonstram aspectos obscuros e incompreensíveis à maioria da população. É claro que “O processo” de Kafka, certamente instigador como a obra “Metamorfose”, suscita complexos debates acerca das metáforas contidas na história, denotando todas uma certa perplexidade humana. Em rápida abordagem deve-se vislumbrar que Josef K. é um personagem tão verossímil quanto o problema por ele enfrentado diante de labirintos jurídicos e sociais, constantemente vagos ou obscuros. 

                Ainda hoje, quantos "Josefs k". existirão, andando feito fantoches sob as incertezas da justiça humana ? Certamente, essa obra de Kafka ainda rendará muitas divagações sobre nossa vulnerabilidade diante dos atos jurídicos do Estado, que freqüentemente afronta seus cidadãos.

                    Seguem alguns pequenos vídeos sobre a obra "O Processo":






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Veja mais sobre o livro:

terça-feira, 3 de abril de 2012

ARTIGO: Paulo Freire - Educação para transformação


                                    
 Paulo Freire: 
      Educação para a transformação 
do Brasil e do mundo

                                                     

           Como mecanismo propulsor dos mais importantes avanços humanos, a educação constitui um meio para a melhoria do Brasil e do mundo. As práticas pedagógicas estabelecem diferentes maneiras de se transmitir o conhecimento, principalmente pelo diálogo entre professores e alunos. Após longas análises sobre tais atividades pedagógicas, o autor Paulo Freire construiu um arcabouço de novos conceitos no âmbito do ensino, de modo a desenvolver métodos que propiciassem o implemento de uma educação crítica e questionadora da realidade.

             Dessa forma, é imprescindível perquirir e concretizar as idéias do mencionado autor, a fim de que as palavras “ordem e progresso” deixem de ser apenas um lema estampado na bandeira brasileira, mas se viabilizem como ações de um País no qual a educação seja instrumento de mudanças sociais, políticas e econômicas. O poder transformador das práticas educativas se torna cada vez mais profícuo tanto para o desenvolvimento interno dos países quanto para a pacificação das relações estabelecidas internacionalmente. Construir uma comunidade mais cooperativa e menos litigiosa, seja em termos brasileiros ou globais, demanda sobretudo uma pedagogia voltada à tolerância e ao respeito das diferenças intersubjetivas. 

             Nesse sentido, Paulo Freire edificou várias obras em prol da aludida pedagogia, com perspectivas construtivas e conscientizadoras, em três grandes períodos de sua vida. Nascido na cidade de Recife, em 1921, Paulo Reglus Neves Freire iniciou na capital pernambucana as atividades intelectuais que marcaram o primeiro grande período de sua vida, no qual estabeleceu boa parte de seus fundamentos e concepções sobre a educação. Já na década de 1940, Freire iniciou estudos de Direito em Pernambuco e foi professor de língua portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz, experiência que lhe trouxe uma série de subsídios para o desenvolvimento de seus métodos pedagógicos.

               Ademais, o referido autor também exerceu magistério no Serviço Social da Indústria (SESI) e na Universidade do Recife, de modo a aprofundar suas idéias sobre os aspectos filosóficos do processo educativo. No decorrer da década de 1950, Paulo Freire começou a afirmar-se de maneira mais nítida como educador progressista, sobretudo após escrever a monografia “Educação e atualidade brasileira”, tese com a qual foi aprovado no concurso para a cadeira de História e Filosofia da Educação, na Escola de Belas Artes pernambucana. As idéias centrais dessa primeira obra de Freire dizem respeito à necessidade de se construir uma escola prioritariamente democrática, que seja apta a solidificar no educando a passagem da consciência ingênua à consciência crítica.

            Em tal transição, os métodos pedagógicos devem proporcionar ao indivíduo o enfoque no que tange aos problemas de seu País, do mundo e da própria democracia. Para o implemento desse novo processo educativo, Paulo Freire substituiu a organização tradicional das salas de aula em carteiras enfileiradas por círculos de debate entre educadores e educandos, o que facilitaria o intercâmbio de saber entre ambos os agentes. A referida técnica foi aperfeiçoada nos primeiros anos da década de 1960, período em que o método freireano passou a ser utilizado pelo Programa Nacional de Alfabetização do Ministério da Educação e da Cultura (MEC). Paralelamente, o aludido método também foi implementado no Projeto Educacional de Adultos, dirigido por Paulo Freire em parceria com o Movimento de Cultura Popular, de modo a desenvolver atividades de alfabetização junto a comunidades carentes do Brasil, como aquelas situadas em Angicos, no Rio Grande do Norte.


                  O caráter crítico do método de Paulo Freire, de certa forma, colidiu frontalmente com os interesses do regime militar instaurado após o golpe de 1964, o que ensejou a prisão e o posterior exílio do educador. Esse acontecimento iniciou o segundo grande período da vida de Freire, caracterizado pela maior abrangência internacional de suas idéias e técnicas. Entre os anos de 1964 e 1969, o autor residiu em Santiago do Chile, onde revisou a obra “Educação e atualidade brasileira” com o novo título de “Educação como prática da liberdade”, além de ter escrito a “Pedagogia do Oprimido”, vista por muitos intelectuais no sentido de ser a obra-prima freireana. O tema central da referida obra diz respeito à idéia de que deve existir um intercâmbio contínuo de saber entre educadores e educandos, com o escopo de que os últimos não se limitem a repetir mecanicamente o conhecimento transmitido pelos primeiros. Por meio do diálogo entre professores e alunos, estabelecem-se possibilidades comunicativas em cujo cerne está a transformação do educando em sujeito de sua própria história.

                     Traduzida em diferentes idiomas, a Pedagogia do Oprimido revela que a educação conscientiza os indivíduos sobre as diversas contradições e disparidades do mundo, de modo a incutir-lhes a demanda por mudanças na realidade social. Ademais do referido livro, outras relevantes obras foram escritas por Freire no transcorrer de seus anos no exílio, tais como “A Contribuição ao processo de conscientização do homem na América Latina” e a “Ação cultural para a liberdade”. Já durante a década de 1970, Paulo Freire passou a residir na Suíça, de modo a lecionar na Universidade de Genebra por sucessivos anos. A partir de então, Freire começou a expandir suas idéias sobre a prática educacional para diferentes países da Ásia, da América e da África, por meio de palestras em universidades e de contínuas traduções de seus livros.

                     Em 1971, o educador fundou o Instituto de Ação Participativa (IDAC), com sede em Genebra, a fim de promover estudos com outros exilados brasileiros e de aprofundar sua práxis pedagógica. Com a concessão de anistia pelo governo do Brasil, Paulo Freire retornou ao País em 1980 e transferiu a sede do supracitado instituto para a cidade do Rio de Janeiro. Após quinze anos de vida como exilado, o aludido educador passou a ter residência na capital paulista, de modo a iniciar um terceiro importante período de sua trajetória intelectual. O livro preponderante que marca esse período é “A importância do ato de ler”, primeira obra publicada por Freire em âmbito brasileiro após o exílio, cujo tema precípuo diz respeito à idéia de alfabetização como mecanismo que possibilita o entendimento do mundo. Assim, o ato de alfabetizar traz em seu cerne um vínculo dialético entre linguagem e realidade.

                  Por meio da leitura, exercitam-se reflexões por parte dos indivíduos acerca do contexto sócio-político e econômico no qual se inserem, de modo a se propiciar uma leitura crítica e fomentadora de transformações. Outros grandes livros foram escritos por Paulo Freire após seu retorno ao Brasil, entre eles “Educação popular” e “Aprendendo com a própria história”, esse último publicado em co-autoria com Sérgio Guimarães. Tal obra versa, basicamente, sobre a forma pela qual os fatos sociais e políticos vivenciados por Freire no decorrer das décadas de 1960 e 1970 influenciaram a elaboração de seu método pedagógico. Por meio da publicação dos referidos livros e de aulas ministradas em instituições como a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), o mencionado educador aprofundou suas idéias sobre as práticas educacionais , de modo a ampliá-las no contexto brasileiro.

                 Entre os anos de 1989 e 1991, Paulo Freire foi Secretário de Educação na capital paulista, o que fundamentalmente lhe propiciou a possibilidade de concretizar algumas de suas teorias pedagógicas. As atividades como secretário educacional ainda ensejaram subsídios para que Paulo Freire escrevesse o livro “Educação na cidade”, cuja abordagem é composta por várias entrevistas concedidas pelo autor sobre sua meta de estabelecer uma escola verdadeiramente democrática. Editado logo após a saída de Freire da Secretaria de Educação, o referido livro explicita a idéia de que a escola pública é um direito inalienável dos indivíduos, mediante o qual deve ser implementado o diálogo construtivo entre professores e alunos.

                   Em linha argumentativa análoga, Freire escreveu a obra “Pedagogia da esperança”, que traz uma síntese acerca das principais temáticas de cunho social, político e econômico, verificadas na América Latina durante séculos de exploração. Assim, o livro citado proporciona a noção central de que a esperança pode ter primazia no tocante às opressões sofridas por diferentes povos, sobretudo se a dignidade humana for reconstruída por meio de uma educação crítica e conscientizadora. Ainda durante a década de 1990, Paulo Freire publicou diversos livros sobre o tema pedagógico, tais como “Professora sim, tia não”, “Política e educação”, “Pedagogia da autonomia”, “Cartas a Cristina”, “À sombra desta mangueira”, entre outros. Os três primeiros livros supracitados revelam facetas já conhecidas do pensamento freireano, no sentido de abordarem aspectos concernentes à construção crítica e politizada do saber individual. Já as duas últimas obras denotam as habilidades mais poéticas e filosóficas de Freire, de forma a minudenciar memórias do autor sobre sua trajetória de vida. Em diferentes obras, Freire salientou a importância de se implementarem técnicas educativas que proporcionem o entendimento sobre os problemas do Brasil e do mundo.

                     A partir desse prévio entendimento, é possível estabelecer ações efetivas para a resolução de imbróglios e contendas que se multiplicam incessantemente em âmbito brasileiro e mundial. Ademais, o método freireano também incluiu como um de seus pressupostos a conscientização sobre a necessidade de tolerância e respeito, seja entre os indivíduos ou entre os países. Paulo Freire teria propiciado muitas outras lições à humanidade se um infarto não tivesse lhe ceifado a vida, em 1997, após décadas de engajamento em prol de uma pedagogia crítica. Com toda essa abordagem sobre as principais obras e idéias de Paulo Freire, torna-se nítida a importância da educação para as transformações tanto do mundo quanto do Brasil. 


                    Saiba mais sobre as contribuições de Paulo Freire para o tema da Educação como mecanismo transformador da sociedade, leia as obras do autor. Segue um vídeo com informações sobre o método educativo de Paulo Freire:



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http://reflexoesliterariasonline.blogspot.com.br/
http://pt.shvoong.com/social-sciences/education/630254-Pedagogia do Oprimido





domingo, 1 de abril de 2012

Artigo para reflexão



QUAL SERÁ O MODO "CERTO" DE ESCREVER ?
por Juliana S. Valis


     Umas breves reflexões sobre tantos manuais de redação e de escrita criativa me levaram a redigir este pequeno texto, apenas como exercício de observação. De fato, existem grandes e intermináveis discussões sobre o que seria a tal "objetividade", coesão e coerência na arte de escrever, em outras especificações técnicas. Entretanto, quem estabeleceria com exatidão e clareza todos os termos precisos de uma "boa" obra literária ? 

     Antes de tudo, é engraçado como temos sempre a tendência de achar que estamos certos em qualquer coisa, como se o nosso ponto de vista, sobre qualquer tema, fosse o "mais correto" ou o "mais válido". Entretanto, é sempre bom entender que o nosso ponto de vista, principalmente sobre questões relativas a textos como alto grau de subjetividade, é apenas UMA FORMA de interpretação, e não a melhor, ou a pior, ou a única impressão válida. 

     Por isso, acredito que simplesmente não existe apenas um modo "certo" de escrever ou de se expressar artisticamente (ou, talvez, tecnicamente), pois o que consideramos "certo" é apenas um reflexo da nossa subjetividade, inerente ao que sentimos, sem qualquer relação com algo "exato", "estanque" ou pretensamente "universal". Na arte literária, como na vida, não existe "absolutismo". Ninguém tem o direito de rotular ninguém, do que quer que seja. 

    Assim, ressalto o direito que temos em nos expressar, sem desrespeito, sob infinitas formas e sobre infinitos temas. Às vezes escrevemos de modo crítico, outras vezes, de modo despreocupado, ou de modo sarcástico, ou irônico, vago ou concreto, e nada disso está errado ou certo, ou absolutamente inquestionável. 

    Em síntese, a grande "graça" de escrever está nos infinitos modos e possibilidades de expressão. Quem tem a pretensão (inócua) de estabelecer temas e métodos unicamente "válidos" e "agradáveis" acaba restringindo a própria criatividade humana, por si só, ilimitada. 

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